Acho que o final do ano é uma das datas mais carregadas afetivamente. Pela sensação de fim, pelas reflexões que ele traz, pela nossa vontade de ter dado certo, ou não. As memórias afloram, não tem jeito, e a gente volta para tempos lá de trás, com a sensação, muitas vezes, de que éramos mais felizes, de que o espírito natalino ficava mais junto da gente, porque tudo parecia mais fácil, menos complicado.
Inevitável, nessa época, estacionarmos afetivamente nos natais de nossa infância, quando todos que eram importantes no nosso mundo estavam presentes, vivos, ali do ladinho. Para mim, Natal tem muito de mãe. A minha tornava a data um evento mágico, amoroso, religioso, cheio de detalhes que marcaram significativamente minha alma. Já começava com as novenas, cada dia em uma casa da vizinhança. A montagem de um presépio imenso para mim, a árvore, a guirlanda, o Papai Noel de papel.
Fim de ano também nos traz uma sensação de que um ciclo termina, de que tem coisa nova pela frente. O ano novo chega para a gente vazio, prontinho para que coloquemos nele todas as nossas esperanças, planos, sonhos, como se a vida nos desse novas oportunidades para recomeçar. Acho que a vida levou os homens a inventar o calendário, para que a gente tivesse essa chance de voltar a esperançar. Necessitamos encerrar ciclos e essa data acaba nos dando chances de fazer isso mais facilmente.
Eu mudaria o termo “fim de ano” para “continuidade da vida”. Nem tudo precisa ser finalizado, nem sempre conseguiremos resolver as coisas e está tudo bem. Algumas pendências a gente tem que deixar para trás. Tem pessoas com quem não dá para tentar resolver nada porque, quanto mais tentamos, maior a pendência. Alguns ciclos ficam suspensos e não devemos nos culpar, porque não dependem somente de nós. Segue, sem peso, sem culpa, só vai.
Mesmo assim, em alguns entraves a gente consegue e deve colocar um ponto final. Mesmo que doa, finalizar o que não deu certo salva. Aproveite o fim do ano para encerrar ciclos intermináveis de aborrecimento. Nunca é tarde para renovar, renovar-se, respirar sem sufoco. Deixe para trás o que não ata nem desata e leve consigo os laços que trazem leveza à sua vida. Respira.
Imagem Antonino Visalli