Ninguém imagina que algo possa chegar e virar tudo de cabeça para baixo. Ninguém espera uma dor repentina e aguda, assim, em um segundo. Ninguém acha que acontecerá alguma coisa que sugará todas as suas forças. Sonhamos com o que dará certo, com o que nos fará sorrir, com conquistas nossas e de quem amamos. E, quando dá errado, mas um errado dolorido e devastador, não sabemos o que fazer, como viver.

 

Quando vem a escuridão, fica tudo nebuloso, turvo, como se vivêssemos em uma realidade paralela. Para nos proteger, inconscientemente mergulhamos em brumas, a fim de que aquela realidade assustadora não grite na nossa frente. O choro, o nó na garganta, as perguntas, os questionamentos, aquele o que eu fiz para merecer isso. O que você fez? Você simplesmente existiu.

 

Existir, viver, implica dores e prazeres, amores e ódios, escolhas e consequências. Enquanto existimos, estamos correndo riscos, porque a vida não é monotonia, estagnação, viver é andar em um terreno inseguro, porque, por mais que planejemos, nada é incapaz de acontecer. Nem de bom, nem de ruim. Você pode ser uma pessoa boa, cautelosa, o que for, ninguém está totalmente a salvo de problemas.

 

Isso não é negativismo, é choque de realidade. Não vivemos sozinhos e isolados, ou seja, nossas vidas estão entrelaçadas com outras vidas, que também importam. Não sofremos somente com o que nos acontece, também padecemos quando pessoas queridas atravessam tempestades. E, se nos sentimos impotentes quando o redemoinho é nosso, quando assistimos de fora, nós nos sentimos ainda mais incapazes de ajudar.

 

 

Temos, mesmo assim, que saber quando as dores foram ou não provocadas por nós. Colher o que plantamos será inevitável, mas não podemos querer atravessar como protagonistas as colheitas daquilo que não semeamos. Podemos amparar, aconselhar, porém, não poderemos nos culpar, jamais, pelo que não dependia de nós, pelo que não partiu de nós, pelo que não fizemos. Isso torna tudo menos difícil.

 

A vida continua. A gente perde o emprego, perde quem ama, fica doente, cai, chora, deixa para trás. Mas a vida continua, as pessoas seguem, a roda gira. Tenha fé, tenha esperança: você também continuará. Não há noite que nunca acabe, não há mal que sempre dure, não há choro que não tenha fim. O sol nasce, as nuvens se vão, a luz volta a clarear os caminhos, as flores, as cores. Não se esqueça de que o tempo cura, traz respostas, fortalece. Há dores que salvam. Confie, vai passar.

 

Imagem: Vladislav Muslakov