Dia desses, eu estava conversando com meus alunos sobre alguns valores que nunca devem ser deixados de lado, dentre eles a honestidade. O mundo carece disso, de transparência, de verdade, de saber com quem se lida. É preciso ser honesto com as pessoas e consigo mesmo. Porque muitos de nós não somos verdadeiros nem com nós mesmos.

 

Hoje, há uma romantização excessiva da felicidade perene, da gratidão diária, do sorrir, apesar de tudo. Propaga-se a ideia de que temos que ser fortes, resilientes, agradecidos, num mundo onde não se encontra espaço para fraquezas, quedas e tristezas. Padrões físicos e emocionais se alastram pelas redes sociais, porque vencer na vida é a ordem do dia, sem dramas, sem mimimis.

 

E, nessa toada, a gente acaba mantendo por perto pessoas que fazem mal. Ora, se é preciso ser forte e simpático, sorrir, aceitar, não tem motivo para afastar o que incomoda. A gente que lute. É dessa forma que acabamos raciocinando, inconscientemente, porque nos mandam ser assim, blindados contra o que vem na contramão, sempre em pé, sempre felizes, com disposição para a academia. Ah, e com um baita sorriso no rosto.

 

 

Não é por aí, de jeito nenhum, isso é cruel demais. Devolvam o nosso direito a chorar, a desabar, a chutar o balde, a desistir. Deixem-nos doer, a gente precisa se revoltar, discordar, duvidar, não querer, não sorrir, de vez em quando. Eu não sou tão forte assim, eu preciso cair, porque é na queda que eu posso entender a dor e combatê-la. Chorar faz bem, a gente se esvazia da dor, do que faz mal. Temos esse direito.

 

Eu posso não gostar de quem não me faz bem. Não consigo conviver com certas pessoas. Eu me permito essa distância de meus desafetos. Tem dias, inclusive, em que eu acordo com a “síndrome do jardineiro” e vou podando, pelo meu caminho, tudo o que faz mal: pessoas maldosas, lembranças inúteis, lugares sufocantes. Faz um bem enorme, experimente.

 

Imagem: Boris Debusscher