Eu estava pensando em como a gente parece se sentir culpado quando não estamos muito bem. É como se não pudéssemos, não devêssemos, nunca, em hipótese alguma, desabar. Faltar ao trabalho é inadmissível, chorar na frente dos outros não pode, não fazer nada é vergonhoso. Ser forte, resiliente e proativo é a única atitude não condenável. Mas ninguém é assim o tempo todo. Ninguém.
As lágrimas, quando eu reflito, são reprimidas desde a nossa infância. Dificilmente vemos um adulto falando para a criança que ela pode chorar. Na maioria das vezes, pedem para a criança parar com as lágrimas. E, lá na sua imaturidade emocional, a criança vai internalizando que deve engolir o choro. Poucos perguntam o que ela sente, para que comece a lidar com os próprios sentimentos com liberdade. E a gente carrega isso a vida toda.
Já o trabalho acaba parecendo uma poderosa entidade, desde sempre, porque ele é endeusado como aquilo que determinará perenemente o nosso futuro. Estude, para ter emprego. Aprenda a se comportar assim ou assado, para ter um emprego. Você só vai ser alguém na vida com tal emprego. Sem contar a romantização que fazem de cargas horárias extensas e estressantes. Quanto mais horas de trabalho por dia, mais guerreiros somos.
Quanto aos relacionamentos, sejam quais forem, estão cada vez mais frágeis, rasos, líquidos. A desconfiança parece ser a tônica que permeia toda e qualquer interação entre as pessoas. O medo da decepção impede o aprofundamento de sentimentos, de afeto. Jogar-se é arriscado demais. Porém, é assim que laços não se formam e as pessoas perdem ótimas oportunidades de viverem histórias lindas de amor, de amizade, conformando-se com muito pouco.
A gente precisa parar de sentir mal por se sentir mal. Não é feio enfraquecer, sensibilizar-se, amar com força. Fizeram a gente acreditar que é bonito trabalhar sem parar, que chorar é fraqueza, que não pode ser intenso em relacionamentos. A gente acabou normalizando estafa, frieza e sentimentos rasos. Vamos voltar umas casas, por favor.
Imagem: Zach Vessels