Eu me lembro de que, quando criança, eu às vezes me imaginava adulto. Ficava pensando se eu me casaria, teria filhos, essas coisas. Mal eu sabia que a infância deveria ser mais comprida do que a vida adulta. Que bobagem querer crescer logo. Deixemos as crianças serem crianças por mais tempo. É tão bom.

 

Eu percebo muita precocidade por aí, numa onda de adultização das crianças que cresce a cada dia. Perder a infância significa não aproveitar uma das fases mais lindas dessa vida. E isso piorou com as redes sociais, nas quais as crianças têm acesso a conteúdos inapropriados para essa faixa etária. Piorou, também, com as ruas ficando mais perigosas, pois ali era um espaço crucial para a vida das crianças de outrora. A gente vivia na rua, mesmo à noite, sem medo.

 

Mas esse nem é o ponto sobre o qual quero refletir, mas sim a dor que carregamos enquanto crescemos. Eu sempre tentei manter uma calma, mesmo quando borbulho por dentro. Todo mundo me acha tranquilo. Não sou. Meus pensamentos vivem acelerados, penso muito, observo, tiro conclusões. Se alguém conseguisse entrar na minha cabeça, morreria atropelada. Sou um tanto quanto ansioso. E isso não ocorria no Marcel criança.

 

 

Um dos problemas de se pensar demais é que a gente acaba indo e voltando na linha do tempo e nem sempre enxerga coisa boa. Eu já errei muito, fiz péssimas escolhas, falei o que não devia, e esse passado às vezes vem me aborrecer. Outro problema é que a reflexão é acompanhada de senso crítico, ou seja, a gente acaba passando raiva quando percebe as injustiças que ocorrem por aí, com os abusos, enfim, pensar também carrega uma maldição.

 

A chave da questão é viver um dia de cada vez. Somente assim a gente para de criar tempestades inúteis. Se uma pessoa estiver se afogando e alguém jogar uma âncora, ela provavelmente vai se agarrar à âncora e afundar. O desespero retira o nosso poder de raciocínio. Tente, portanto, manter a calma no seu dia-a-dia, para que, durante as tempestades, você não confunda âncora com boia.

 

Imagem: Anthony Tran