Uma das coisas mais difíceis de enxergarmos são os defeitos de quem amamos. Dói perceber que o outro não corresponde às nossas expectativas, quando o outro age exatamente da forma que menos esperávamos. A gente idealiza e constrói uma imagem ilibada daquela pessoa, para termos um apoio seguro fora de nós. Mas não existe alguém ideal.

 

A gente se decepciona tanto, o mundo está tão caótico, que tentamos nos agarrar a qualquer coisa que pareça mais segura. Dentro da gente tem tanta intranquilidade, que buscamos avidamente por alguma calmaria lá fora. E, nessa procura, muitas vezes nos aproximamos do que possa nos tranquilizar, mas de uma maneira ilusória. Pintamos com cores leves e coloridas tudo ao nosso redor, como se a perfeição existisse. Mas a gente sabe que não existe.

 

E o mesmo se dá em relação às pessoas com quem convivemos e amamos. Costumamos relevar o que elas carregam e não nos agrada, porque queremos que permaneçam em nossas vidas. Não queremos nos decepcionar com quem temos um relacionamento afetivo, afinal, já nos aborrecemos deveras com as pessoas no trabalho, na vida enfim. Queremos que o amor pelo outro seja imaculado, sem ranhuras, sem arestas. Tempos de solidão acompanhada esses em que vivemos.

 

 

Na verdade, é extremamente importante enxergarmos o outro em tudo o que ele é, suas luzes e escuridões, pois é somente assim que conseguiremos manter um relacionamento transparente e verdadeiro. É assim que a gente vai amadurecendo e solidificando os sentimentos, o que sentimos realmente. É na conscientização de que amamos a pessoa com tudo o que ela traz que conseguimos discernir se vale ou não a pena caminhar junto. Sem ilusões.

 

É assim. Muitas vezes, romantizamos algumas pessoas, de tanto que as amamos. Achamos que elas sentem o mesmo e que fariam por nós o que fazemos por elas. Um conselho: não espere das pessoas mais do que elas possam oferecer. Enxergar o outro como ele é faz parte desse amá-lo. Ou deixar de.

 

Imagem: Taylor Grote