Amar é fácil, difícil é manter o amor vivo, porque o tempo desgasta, cansa, traz decepção, lamentos e dúvidas. Todo mundo se mostra de verdade enquanto os dias passam, pois é impossível conhecer alguém de imediato, visto que demoramos para mostrar tudo o que realmente somos.

 

O cotidiano torna tudo menos cor-de-rosa e acaba por retirar toda e qualquer máscara que se tenha sustentado de início. Mentiras caem por terra, segredos são revelados, histórias passadas retornam do nada. É no arroz com feijão que a verdade aparece, é na convivência diária que a gente se mostra, para além das poses e encenações utilizadas enquanto se conquista o outro.

 

Por essas razões, um dos maiores erros de qualquer parceiro vem a ser o pensamento de que possui crédito o bastante para errar com o outro, na certeza de que suas falhas sempre serão mais fracas do que o amor que une o casal. Munidos dessa certeza, muitos acabam errando de novo e de novo, sem pesar o quanto machucam o parceiro, sem se colocar no lugar de quem está ali ao lado se decepcionando cada vez mais.

Pois é exatamente essa convicção de que será perdoada que impede a pessoa de rever os seus próprios atos, adequando-se às exigências mínimas que uma vida a dois requer. Enquanto isso, uma das partes se exaspera e morre um pouquinho por dentro, a cada dia, a cada dor, a cada decepção, a cada vacilo daquele que ama. E, assim, o amor acaba por arrefecer, por diminuir lenta e dolorosamente, porque não há sentimento amoroso que consiga atravessar caminhos espinhosos sem mudar, sem se tornar menos, nulo, nada enfim.

 

O amor verdadeiro é forte, resistente, compreensivo, mas não é condescendente. O amor tem a medida exata da dignidade que nos sobra ao final do dia, ao final da jornada, tendo sua duração estendida ou diminuta, conforma o tanto que se rega. Por mais que haja paixão, não existe amor que sobreviva após machucar-se reiteradamente. Simplesmente porque não existe quem perdoe tudo por amor.

 

Imagem: Jonathan Rados