Provavelmente, nunca conseguiremos parar de nos enganar com as pessoas. Mais dia, menos dia, por mais que tentemos conhecer aqueles que nos rodeiam, acabaremos nos decepcionando com alguém. Uma fala que machuca, uma atitude que surpreende, um comportamento que não se espera. De uma ou de outra forma, alguma expectativa que criamos se quebra, muitas vezes dolorosamente.

A gente se engana com sentimentos, com acontecimentos e, principalmente, com pessoas. Queremos sempre acreditar no melhor, queremos ter esperança de que tudo tem jeito, de que ainda existe bondade e humanidade por aí. Os dias não são fáceis e, por isso mesmo, mantemos essa crença no melhor de tudo e de todos. E então a gente quebra a cara. E dói.

Infelizmente, nosso tempo é tão atribulado com tarefas repetitivas e mecânicas, que acabamos relegando os sentimentos a um segundo ou a um terceiro plano, não prestando muita atenção no que ocorre por trás do que é aparente. No entanto, há muita coisa acontecendo além do que se vê e isso só percebemos quando nos empenhamos em entender as nuances, os sinais, as intenções veladas que estão revestidas por vernizes muitas vezes teatrais.

Sequer podemos imaginar que postagens nas redes sociais ou que discursos pomposos e poses moralistas possam esconder comportamentos totalmente opostos àquilo que as palavras descrevem. Existe muito falso moralismo, muitas máscaras dissimuladas sendo usadas por quem não vive, nem de longe, o que prega pelos quatro cantos do mundo. Quantos de nós não nos surpreendemos, por exemplo, com algum comportamento que jamais esperávamos de alguém que combatia fervorosamente o que acaba praticando?

Ainda que nosso tempo seja restrito, portanto, é necessário prestar atenção à maneira como as pessoas se comportam, às atitudes que tomam cotidianamente, à forma como tratam as pessoas com que se relacionam. Focarmos apenas palavras e discursos jamais nos dará a medida exata do caráter das pessoas, afinal, o que se diz é apenas o que se diz, mas aquilo que se faz, a forma como fazemos o outro se sentir, é o que fica.

Imagem: Ben White